Espécies de peixes potenciais na Amazônia para a aquicultura nacional

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Os recursos pesqueiros amazônicos são uma grande fonte de alimento para os habitantes da bacia e algumas espécies comerciais têm mostrado um potencial de desenvolvimento de sistemas de aquicultura sustentáveis, escreve José Luis Morheb 

Desafios para a Biodiversidade de Peixes na Amazônia

A Amazônia enfrenta hoje dois grandes desafios que afetam diretamente a biodiversidade de seus peixes:

1️⃣  Estudo e conservação dos recursos pesqueiros: A identificação, armazenamento e pesquisa desses recursos são essenciais para assegurar a segurança alimentar global nos próximos anos.

2️⃣  Preservação da biodiversidade e manejo sustentável: O uso responsável dos recursos naturais está diretamente ligado à aquicultura, tornando urgente a adoção de práticas que conciliem conservação e produção sustentável.

Garantir o equilíbrio entre exploração e preservação é fundamental não apenas para a Amazônia, mas para a saúde alimentar e ecológica de todo o planeta.

Bacia Amazônica: Um Olhar Sobre as Espécies e Desafios

A Bacia Amazônica abriga cerca de 2.000 espécies de peixes, das quais 10% podem ser exploradas atualmente, seja para consumo alimentar ou para fins ornamentais. A diversidade e importância econômica da pesca na região são evidentes, com destaque para duas grandes famílias: os characídeos ou characiformes, que representam 43% do total de capturas na bacia, e os siluridae ou siluriformes (peixes-gato), responsáveis por 39% das capturas. Essas espécies são pescadas principalmente no Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela.

Outros grupos relevantes incluem percomorfos e osteoglossiformes, reforçando a diversidade da fauna aquática amazônica. Entre os characídeos de maior valor comercial, destacam-se:

  • Tambaqui (Colossoma macropomum)
  • Pompano de água doce (Piaractus brachypomus)
  • Sável (Prochilodus spp. e Brycon spp.)

A pesca de peixes-gato, um dos pilares econômicos da região, ocorre durante todo o ano, com variações sazonais que acompanham o ciclo das águas e o comportamento migratório das espécies. As inundações são um fator crítico para a biologia e a ecologia da bacia. 

A Dimensão da Pesca e os Desafios da Sustentabilidade

Estima-se que mais de 30.000 toneladas de bagres sejam pescadas anualmente no Brasil, Colômbia e Peru. No entanto, esse volume pode ser até três vezes maior, considerando as capturas não registradas e aquelas destinadas ao autoconsumo pelas comunidades ribeirinhas. A pesca na Amazônia é realizada tanto por meio de embarcações industriais quanto por pequenas embarcações artesanais.

Outras espécies emblemáticas da região, como o pirarucu (Arapaima gigas) e o tucunaré (Cichla monoculus), também são exploradas, mas as informações sobre seus volumes de captura permanecem incertas, evidenciando a necessidade de aprimorar os mecanismos de monitoramento e controle.

A gestão sustentável desses recursos é essencial para preservar a biodiversidade e garantir a segurança alimentar e econômica das populações locais e dos países amazônicos.

Sistemas de Produção

O potencial de espécies amazônicas a serem produzidas em sistemas de aquicultura precisa ser determinado.

Os characins são produzidos principalmente na região amazônica dos países vizinhos. Portanto, um sistema de produção semelhante a esses pode ser encontrado na região de Orinoquia. Os sistemas são baseados em pacotes de tecnologia desenvolvidos em outras áreas do país, portanto, o único requisito de tecnologia para usá-los é adaptar esses pacotes às condições da área amazônica.

Além disso, algumas espécies de silurídeos também despertam interesse na área de Iquitos, onde pesquisadores do IIAP (IIAP, Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana) auxiliados por especialistas húngaros conseguiram criar sorubins tigre, bagres marinhos e bagres dourados em condições de cativeiro.

O pirarucu mostra sinais de ser a espécie potencialmente mais promissora para a aquicultura amazônica, pois possui um tamanho médio anual de 10 kg por peixe e filés de alta qualidade.

Amazônia brasileira

Sistema de cultivo:
extensivo (27 por cento) e semi-intensivo (73 por cento).

Tipo de criação:
Agricultura mista (frequência: 85,7 por cento)
Criação de uma única espécie: (f: 28,6 por cento)

Criação de espécies piscícolas:

  • Tambaqui (Colossoma macropumum) 95,2
  • Tilápia (Oreochromis niloticus) 38,1
  • Matrinxã (Brycon cephalus) 38,1
  • Jaraqui (Semaprochilodus ssp.) 33,3
  • Pirarucu (Arapaima gigas) 33,3
  • Carpa (Cyprinus carpio) 19.0
  • Tucunaré (Cichla spp) 14,3
  • Prochilodus preto (Prochilodus nigricans) 9,5
  • Oscar (Astronatus ocellattus) 9.5
  • Corvina prateada sul-americana (Plagioscion squamosissimus) 4.8

Cultivo de Pirarucu

Sistemas de Cultivo de Espécies na Região Amazônica

Na Amazônia, diversas técnicas de cultivo têm sido aplicadas para produzir espécies de peixes, variando conforme o nível de manejo e recursos utilizados:

  • Agricultura Extensiva: Esse sistema, caracterizado por baixo controle e menor intervenção humana, foi adotado em áreas do Brasil e do Peru.
  • Agricultura Semi-intensiva: No Instituto do Mar Peruano (Iquitos, Peru), foi utilizada uma abordagem semi-intensiva, incorporando o uso de esterco de galinha como ração. Além disso, os animais foram alimentados com peixes forrageiros, como Cichlasoma bimaculatum ou C. amazonarum. Esse modelo também foi implementado no Centro Experimental Amazônico de Letícia (Colômbia).
  • Agricultura Intensiva: Nesse sistema, a densidade de peixes é mais alta e a alimentação é fornecida diariamente, com peixes vivos ou mortos. Além disso, são utilizadas tripas de peixe e de galinha como complemento alimentar.
  • Cultivo em Gaiolas: O cultivo em gaiolas tem sido testado de forma experimental em San Martin (Peru) e no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), no Brasil.

Cada modelo de produção apresenta vantagens e desafios, e as experiências acumuladas na região oferecem importantes insights para o desenvolvimento sustentável da aquicultura amazônica.


Projeções

Aquicultura na Amazônia: Potencial para Sustentabilidade e Desenvolvimento

Os recursos pesqueiros da Amazônia representam uma importante fonte de alimento para as populações que habitam a bacia. Além disso, algumas espécies comerciais já mostraram grande potencial para integrar sistemas de aquicultura sustentável. Hoje, diversas tecnologias permitem a produção de várias espécies amazônicas diretamente na região.

Entre as espécies mais emblemáticas está o pirarucu (Arapaima gigas), valorizado tanto por seu impacto ecológico quanto por sua relevância cultural. Estudos mostram que a espécie pode ser produzida comercialmente com sucesso na Amazônia, o que reforça seu papel na expansão da aquicultura regional.

Para ampliar essa iniciativa, é fundamental desenvolver sistemas de produção que garantam a segurança biológica das instalações, possibilitando a replicação desses modelos em outras áreas da Colômbia e em outros países amazônicos.

O fortalecimento da cadeia produtiva da aquicultura pode trazer benefícios significativos para o desenvolvimento sustentável e competitivo dos atores envolvidos. Além disso, essa expansão cria novas oportunidades para incentivar o consumo doméstico de peixes nativos e abrir mercados internacionais por meio da exportação, impulsionando a economia local e regional.

Investir na aquicultura é um passo estratégico para alinhar conservação ambiental com desenvolvimento econômico, promovendo uma gestão responsável dos recursos naturais da Amazônia.

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